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A quimera da passagem de passagem

Todo ano, quando se aprochegam estes tempos de festas, estes fatigados e adinâmicos últimos dias do calendário anual, sempre, desde que me conheço não me reconhecendo, uma colossal e íntima apatia me toma por completo. Não por não gostar das festas, comidas, bebidas e os encontros com amigos e familiares, o que devo declarar já em confissão, são justamente tais eventos os quais tornam as mesmas datas um pouco menos excruciantes. 

Creio ser algo ainda mais profundo do que a própria fadiga de mais um ano que se completa. A expectativa ilusória e repleta de fé acerca de um novo ano no qual as coisas serão melhores, mais prósperas e que tudo "dará certo", é, talvez, um dos gatilhos e grande chave psíquica para que tudo seja tal qual e congênere, de modo lancinante e sórdido, numa graciosa fantasia, cujas máscaras ao final da derradeira bebederia em fuga de esquecimento, e, sua respectiva ressaca em pílulas do dia seguinte , a degenerescência de tudo o quanto se almeja. 

Me evocam em ecos de memória que no peito do futuro pulsa o coração do passado. Caber em tudo o que é tudo, não cabendo em lugar nenhum, é o ponto de lucidez que com intrepidez devemos arrostar a incógnita das incógnitas dos dias porvir. E assim sendo, tudo quanto foi, e o que é, sendo o que for ou o que seja, também moldará tudo o quanto virá. 

Ainda assim, no reiterativo e de lugar comum, os votos que perpetuamente são declarados, e, aqui também vos deixarei por escrito em vias digitais, desejo-lhes um feliz Natal e próspero Ano Novo. Até a volta dos que voltarem.

Cresppo.


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